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Comissão da Verdade promove sessão na OAB/AL para ouvir depoimentos sobre momentos vividos na época da ditadura

Entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 muitas violações de direitos humanos marcaram a história do Brasil, em atos praticados por agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado brasileiro. Desde que foi instituída pelo governo do Brasil, a Comissão da Verdade vem investigando essas violações. Por meio de audiências, pessoas que sofreram algum tipo de violência ou parentes de vítimas são ouvidas pela comissão. Nesta quinta-feira (20), a comissão esteve reunida na sala do Conselho Seccional, no prédio-sede da OAB Alagoas, em Jacarecica, para acompanhar o depoimento do advogado José Costa e do sociólogo Edival Cajá, trazendo à tona importantes momentos vividos por ambos no período da ditadura militar no país. Segundo o coordenador da Comissão da Verdade, Delson Lira, essa colheita de depoimentos vem sendo o foco inicial da comissão, junto aos militantes sobreviventes, parentes e amigos de militantes, que mostram suas histórias e as lutas durante o golpe militar de 64. “Além dos depoimentos, estamos realizando uma pesquisa de registros documentais, junto também a imprensa, com os dados registrados ao longo dos anos. Ao final, a comissão irá produzir um relatório com todas as informações para disponibilizar à sociedade e às instituições interessadas, ligadas aos assuntos de cidadania no brasil”, colocou. Depoimentos marcados pela emoção são constantes durante as audiências, conforme explica Delson Lira. “São lembranças que ficam para sempre na vida dessas pessoas e isso pode ser sentido em cada momento que realizamos as audiências. Não existe ex-perseguido, ex-torturado. Esses eventos marcam nosso consciente para sempre e isso é visível em cada depoimento. As mágoas que ficam, as marcas a ele, aos familiares. Nosso lema é reviver, e não esquecer, para que nunca mais aconteça”, acrescentou. O Secretário-Geral da OAB Alagoas, Davi Lima, acompanhou a sessão e ressaltou o papel da Ordem em assuntos relacionados à sociedade. “É fundamental a integração da comissão com a nossa instituição, resgatando a história de alguns advogados que foram, não somente perseguidos, mas também muito atuantes na época da ditatura. José Costa ícone da advocacia, com a memória histórica muito grande, vem trazer coisas que viveu e que atuou nesta época tão difícil do nosso país. Estaremos sempre com esse espaço aberto para a comissão, dando sequência com advogados e familiares que atuaram na época. A Comissão de Direitos Humanos da OAB também está integrada e espera ampliar cada vez essa atuação junto à sociedade, e resgatando também a história local do nossos estado”, afirmou. O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Everaldo Patriota, afirmou que a Ordem sempre esteve com protagonista na luta pelas causas sociais. “Esse trabalho vem trazendo todo o resgate dessa história, ouvindo os personagens que ainda estão vivos e que viveram aqueles dias, participaram, sofreram com muita intensidade pela liberdade. A OAB tem destaque e não podemos esquecer quantos advogados colocaram a vida em risco, quantos não pereceram, presos na luta de se restabelecer a democracia no Brasil”. **Depoimentos** O primeiro a ser ouvido durante a sessão foi o sociólogo Edival Cajá, que contou sobre a trajetória, os momentos vividos na obscura ditadura militar. Seus relatos emocionaram os membros da comissão e mostraram como muitos militantes perseguidos sofreram atos que deixaram marcas em suas vidas. Edival Cajá relatou a luta e a morte dos alagoanos Manoel Lisboa (tio-avô do diretor da OAB Alagoas, Davi Lima) e Jaime Miranda, mortos pela Ditadura Militar, defendendo os ideias de liberdade e igualdade. Ele aproveitou para ressaltar a importância da criação da Comissão da Verdade no país. “Considero uma das páginas mais importantes da história recente do brasil a criação, a construção e o desenvolvimento do trabalho da Comissão Estadual da Verdade, Memória e Justiça, bem como da Comissão Nacional, assim como dos comitês. A relevância está na medida em que procura lançar luzes sobre uma das partes mais obscuras da história do nosso país, que foram os sequestros, os assassinatos, os estupros, ocultação de cadáver, cometido dos 21 anos da ditadura instalado em 1964 e enterrado em 1985. Esses heróis lutaram pela liberdade, por uma pátria livre, soberana e socialista. E hoje nós rendemos homenagens a estes homens e lutamos pela busca dos restos mortais de 150 companheiros que não forma devolvidos às suas familiares. Faz parte do trabalho da comissão nacional e das comissões estaduais”, disse Edival Cajá. O advogado José Costa também foi ouvido durante a audiência, mostrando sua vivência na época da ditatura. José Costa era recém-formado quando sofreu as consequências da ditadura militar, chegou a ser preso por não repassar à polícia informações sigilosas de um cliente, referente a um crime; foi torturado numa delegacia para confessar pretensos delitos. Sua soltura aconteceu por ordem do ministro da justiça, na época. “Um dos momentos mais difíceis da minha vida profissional, mas que sinto a necessidade de repassar aos jovens advogados porque isso mostra por um lado a beleza dos desafios dessa profissão, mas por todos os desafios enfrentados por esse profissional, ele deve ser valorizado. Além disso, tenho que ressaltar o papel da OAB na defesa das nossas prerrogativas, principalmente naquela oportunidade”, disse José Costa. Ele concluiu destacando o quão fundamental vem sendo o trabalho da Comissão da Verdade. “De alguma forma, é uma maneira de homenagear as vítimas deste momento difícil que o país enfrentou. Vivenciei, dos 56 anos de profissão, 20 anos de ditadura, seja como advogado ou político, e um dos grandes momentos que me orgulho foi ter votado na Anistia, ter participado intensamente da articulação , elaboração da lei”, finalizou.