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OAB Alagoas reúne 250 estudantes com palestras sobre racismo e discriminação racial

Cerca de 250 alunos de seis turmas do ensino médio do Colégio Rosalvo Ribeiro foram recebidos no auditório do prédio sede da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL), localizado no bairro de Jacarecica. Os estudantes participaram da primeira ação dentro do projeto desenvolvido pela Comissão da Promoção e Igualdade Social, em referência ao mês da Consciência Negra, e durante todo o dia acompanharam palestras e puderam discutir sobre racismo e discriminação racial, além de tratar sobre crimes homofóbicos e intolerância religiosa.A presidente da OAB Alagoas, Fernanda Marinela, ressaltou a importância de todo o projeto proposto pela instituição para o mês – que conta ainda com uma audiência pública e uma visita à Serra da Barriga, localizada no município de União dos Palmares -, mas principalmente evidenciou a formação do caráter da juventude na luta contra a discriminação e o racismo.?Sem dúvida o que propomos através da Comissão da Promoção e Igualdade Social é uma forma muito importante de conscientização. Ninguém nasce preconceituoso. Infelizmente, o preconceito é consolidado durante a vida. Quando preparamos a nossa sociedade desde a infância e juventude, quando os conceitos que são levados para a vida são formados, avançamos na luta. É um trabalho que precisa existir desde a infância e é bem verdade que isso nasce dentro de casa, mas também temos, como OAB Alagoas e sociedade, um papel muito importante que é de plantar a semente para um futuro melhor?, pontuou.O Brasil, historicamente, teve uma postura ativa e permissiva em relação ao racismo e a discriminação. O presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Social, Alberto Jorge, lembrou que muitos avanços foram conquistados, mas lamentou que a discussão ainda esteja presente no contexto social do brasileiro com exemplos tão atuais.?Nós temos a obrigação de mostrar para essa juventude que em nossa sociedade não existe mais espaço para o racismo, discriminação social, intolerância religiosa e os crimes homofóbicos que estão acontecendo. A evolução social é inadiável. Estamos discutindo com a juventude o tema para que possamos formar cidadãos no futuro que possam compreender essa realidade e sejam ativistas sociais nessa luta. Só quem sente na pele o que é ser discriminado sabe como dói ser menosprezado pelo outro em razão da sua cor?, ressaltou.O conselheiro federal da OAB Alagoas, Thiago Bonfim, foi um dos palestrantes do encontro. De forma leve e conversando com os alunos, ele pontuou a preocupação com o que é repassado na formação do indivíduo, afirmando que discriminação, racismo e intolerância ainda são ensinados dentro da sociedade brasileira.?Me convidaram para fazer uma palestra, mas essa é uma discussão que pede uma palestra mais conversada, então, queria compartilhar algumas experiências e preocupações diante do momento em que vivemos. Como disse, sabiamente, a presidente da OAB Alagoas, ninguém nasce racista, ninguém nasce preconceituoso. Infelizmente, isso ainda é ensinado e a maior prova disso é que quando você é criança não identifica cor, classe social ou gênero. Você joga bola na rua e não quer saber se o cara que está jogando bola contigo tem um pai com um carro do ano ou que escola frequenta, se veste roupa e tênis de marca. Você quer brincar e se divertir. Quer estar na companhia de quem faz bem a você. Com o tempo você adquire esse ?hábito? e digo ?hábito? porque muitas vezes isso acaba sendo incorporado ao comportamento de forma natural ou ainda como forma de ser aceito em determinado meio?, explicou aos alunos.Também palestrante, a advogada e professora, Emanoela Remígio, falou sobre o processo histórico e do desequilíbrio ainda persistente na sociedade brasileira. ?Existe um dever em se buscar reparar emocionalmente e historicamente tudo que foi vivenciado. Temos ainda hoje um grande desequilíbrio nas questões sociais ligadas a economia ou classe. Grande parte da população afrodescendente ainda não teve acesso a espaços na sociedade ou se tiveram aparecem em percentual muito menor. Isso não é discurso para vaga por cota, é fato real. Nossa sociedade é preconceituosa e todo esse processo histórico de discriminação e segregação fez com que parte da nossa sociedade não conseguisse até hoje ter acesso aos ambientes de forma igualitários e é essa igualdade que buscamos?.O encontro também contou com a participação da psicóloga Janine Ferro Lôbo, que conversou com os estudante sobre o nascimento do preconceito e de como a discriminação deixa marcas. ?O primeiro ponto a ser trabalhado com os adolescentes é a conexão que devem ter consigo e com os pais, a família. Com o respeito dentro de casa dificilmente esse adolescente irá discriminar o outro ou os nossos ancestrais, a nossa história. Dentro do que vivenciamos atualmente temos a ideia de que infelizmente a discriminação sempre vai existir. Precisamos mudar isso. Precisamos atentar para as causas. O que leva uma pessoa a reproduzir atos de racismo? A quem se conectou para reproduzir aquilo? Lembrando que esse efeito, o da discriminação, é para a vida inteira. Quem recebe fica com a ferida para sempre. Isso precisa ser falado e trabalhado para que não aconteça?.A coordenadora do ensino médio do colégio, Vanda Leite, ressaltou a importância das discussões para o aprendizado dos alunos, principalmente, nesta fase onde eles enfrentam as provas de vestibulares que abordam constantemente a temática. Após participarem das palestras, os estudantes passarão por atividades em sala de aula abordando o que foi trabalhado junto à OAB Alagoas.?É um momento em que eles estão fazendo as escolhas para a vida. O tema está muito avançado em todas as mídias e esse momento ajuda muito aos nossos alunos nas redação dos próximos ENEM. Nas provas desse ano, a intolerância foi escolhida como tema da redação. Essas discussões contribuem muito. Os professores já trabalharam o tema várias vezes, fizeram uma preparação no colégio antecipando as palestras e quando voltarmos teremos redações e mais mesas de debates?, explicou a coordenadora sendo completada pela professora de redação, Camila Moura: ?Estávamos esperando esse tema para o ENEM desse ano. Não tivemos racismo e discriminação, mas intolerância também relacionado. São temas persistentes e até por isso às vezes passam despercebidos, mas são enriquecedores para eles como alunos e cidadãos. Após as palestras vamos melhorar o debate em sala de aula?.Os estudantes acompanharam atentos a cada ponto levantado pelos palestrantes, receberam o Estatuto da Igualdade Racial e participaram das discussões. No final do encontro, grupos culturais realizaram apresentações no foyer do auditório, com música e roda de capoeira.Além de promover o crescimento do aluno como ser crítico e de lhe fornecer conhecimentos que permitam a superação do racismo e preconceito, o projeto ainda conta em sua programação com uma audiência pública, marcada para o próximo dia 17, e a ida à Serra da Barriga no dia 20 de novembro, marco referencial da morte de Zumbi e da Consciência Negra.